Crítica: 'Deserto Feliz' aborda o turismo sexual no Nordeste
Longa-metragem entra em cartaz nesta sexta-feira (28).
Dirigido por Paulo Caldas, filme é co-produção de Brasil e Alemanha.
O título do premiado "Deserto Feliz", que estréia nesta sexta-feira (28) em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, registra uma dupla ironia. A história do filme não tem nada de feliz e o deserto é mais metafórico do que real - está no interior dos personagens. Dirigido por Paulo Caldas (co-diretor de "Baile Perfumado", de 1997, ao lado de Lírio Ferreira), o longa é uma co-produção entre Brasil e Alemanha e estreou no Festival de Berlim de 2007.
Desde então, acumulou prêmios, entre eles, diretor, direção de arte, fotografia, música e o da crítica no Festival de Gramado do ano passado. Já no Festival de Guadalajara, recebeu o prêmio de direção.
Além da estreante Nash Laila (premiada no Festival de Cinema Brasileiro de Paris e no Festival de Cine Luso-Brasileiro), o elenco inclui João Miguel ("Estômago"), Hermila Guedes ("O céu de Suely") e Zezé Motta ("Xica da Silva").
Diretor
Os filmes de Caldas - que também assina "O rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas" (2000), co-dirigido por Marcelo Luna - sempre romperam com uma linha tênue entre a ficção e o documental. "Deserto Feliz" não é diferente. O ponto de partida da história veio de uma notícia de jornal que contava sobre um homem preso depois de caçar um tatu - bicho protegido pela legislação ambiental - para alimentar a família.Mais tarde, no sertão nordestino, enquanto pesquisava para o roteiro, Caldas percebeu que a questão do turismo sexual era algo ainda mais forte naquela região e essa se tornou a espinha dorsal de "Deserto Feliz".
Jéssica (Nash Laila) tem 14 anos e seu padrasto ganha a vida com o tráfico de animais. Mais tarde, quando ele a violenta, a garota acaba fugindo para Recife, onde se torna prostituta. O que a levará a conhecer o alemão Mark (Peter Ketnath, de "Cinema, Aspirinas e Urubus"), que a leva para a Alemanha.
Na Europa, mesmo longe de seus problemas originais, Jéssica enfrenta um forte choque sociocultural. A garota está sempre melancólica numa Alemanha cinzenta - longe do colorido e do calor do nordeste brasileiro. Ela não consegue encontrar seu lugar neste mundo novo que, de algum modo, também lhe é hostil.
"Deserto Feliz" poderia ser um conto de fadas - menina sofredora conhece príncipe que a leva para a Alemanha. Mas o diretor Paulo Caldas opta pelo realismo, levantando uma série de questões pertinentes ao Brasil contemporâneo.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
Category: CRÍTICA
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