Animação usa psicodelia e rock'n'roll para rever traumas de guerra

boy | 13:36 | 0 comentários


'Waltz with Bashir' tem últimas sessões nesta quarta no Festival do Rio.
Filme do israelense Ari Folman narra atrocidades da Guerra do Líbano


Atenção, cariocas. Quem ainda não viu tem nesta quarta-feira (8) a última - e rara - chance de conferir por aqui o documentário "Waltz with Bashir". Dirigido pelo israelense Ari Folman, o filme mistura animação, histórias em quadrinhos e o bom rock'n'roll para contar a história verídica de um ex-soldado profundamente afetado pelos traumas de ter servido durante a Guerra Civil no Líbano, no início da década de 80. Sem se lembrar exatamente do que aconteceu naquele período, o personagem central do longa - na verdade, o próprio diretor - parte em uma viagem física e mental em busca de seu passado.

Apesar de "animado", "Waltz with Bashir" é praticamente uma aula de geopolítica: oferece um panorama detalhado dos eventos e personagens que levaram ao massacre de Sabra e Shatila, duas vilas palestinas ao sul do Líbano que, durante três dias em 1982, foram destruídas por milícias cristãs falangistas do presidente Bashir Gemayel - tudo com o consentimento do então ministro da defesa de Israel, Ariel Sharon. Mais que isso, contudo, o filme é um mergulho profundo e altamente oportuno, em tempos de guerras não só em Israel mas no Iraque, Afeganistão, Georgia etc., na mente de jovens que, como o próprio Folman define, têm "a guerra no seu DNA". "Este é um filme antiguerra. Em filmes americanos, mesmo nos que criticam a guerra, você sempre vai ter um certo glamour em torno da guerra: a glória, a amizade entre os soldados, a masculinidade, a bravura. Você vê e fala: 'sim, é um filme antiguerra, mas eu quero ser um desses caras'. Com 'Bashir', quero que os jovens vejam e não queiram se sentir parte disso", disse o diretor em entrevista ao G1 em maio, quando a animação foi exibida pela primeira vez, no Festival de Cannes.



Choque de realidades


Dado o formato do longa, que por vezes parece um grande e - por que não? - divertido videoclipe pontuado por ótimas canções de bandas punk como PiL, de Johnny Lydon, e alguns nomes do underground local, a separação entre crítica e a glamourização da cultura bélica é bastante sutil em "Waltz with Bashir". Como muitos jovens em quaisquer lugares do mundo - só que fardados -, os personagens do longa enchem a cara de álcool, tomam drogas e enfeitam seus fuzis com adesivos de seus heróis favoritos.

Mas, para não deixar dúvidas de suas verdadeiras inteções ao fazer o filme, que descreve como uma longa e terapêutica jornada de volta à sanidade, Folman insere em um momento-chave da história algumas poucas (e fortíssimas) imagens reais da guerra que vivenciou. "A idéia era colocar tudo em proporção. Não queria que as pessoas saíssem do cinema pensando: 'muito boa essa animação, tem músicas legais, uns desenhos bonitos...' Sim, é um filme de animação, mas milhares de pessoas morreram. Isso é real: crianças e mulheres foram massacradas", insiste, esboçando a seguir uma pontinha de otimismo. "É claro que muita coisa mudou nos últimos 25 anos. Quando eu fui à guerra, o ato de recusa não era nem algo inaceitável, era inexistente. Você seria considerado um traidor e sequer poderia viver no país se não se alistasse. Já na segunda Guerra do Líbano, alguns anos atrás, houve muita gente que se recusou a lutar e nada aconteceu", ponderou. "Cheguei até a acreditar que isso se tornaria um grande movimento de massa [a recusa à guerra] e que, se isso acontecesse, o governo teria de mudar as coisas. Mas não foi."



Independente


Produzido de maneira praticamente artesanal, com depoimentos captados em vídeo e depois transformados em animação em flash e algum CGI pelas mãos do diretor de arte russo-israelense David Polonsky, "Waltz with Bashir" ainda não fez sua estréia oficial no circuito comercial internacional mas vem gerando reações positivas em diversos festivais pelos quais passou. Surpresa até para o diretor.

"Quando começamos este filme tínhamos US$ 80 mil de orçamento. Quatro anos atrás, não planejávamos competir em Cannes e sequer sabíamos como juntar dinheiro para o filme. Fiz então um trecho de três minutos, levei para Toronto e consegui mais US$ 300 mil ou US$ 400 mil. Peguei esse dinheiro, fiz mais 20 minutos e levei para a Alemanha. E assim por diante, a cada 20 minutos pegava a mala com DVDs e trazia mais dinheiro para casa para fazer o filme. Até acabar com os US$ 2 milhões finais de orçamento", explica.
Comprado pela distribuidora Sony Pictures Classics nos Estados Unidos, o longa ainda não tem previsão de estréia em circuito aqui no Brasil. Depois dessa breve passagem pelo Rio, "Waltz with Bashir" deve fazer nova escala em São Paulo no final do mês, para a Mostra SP de Cinema, e depois sabe se lá quando será visto outra vez por estas bandas.

Aproveitando o interesse por obras ligadas à cultura do Oriente Médio -- vide "Persépolis", de Marjane Satrapi, "Exit wounds", da premiada autora israelense Rutu Modan, ou mesmo a série de HQs jornalísticas "Palestina", de Joe Sacco --, a história de Folman também ganhará sua versão em papel. Editada pela Metropolitan Books, a graphic novel "Waltz with Bashir: a lebanon war story" já pode ser encomendada em lojas virtuais como a Amazon.com, com previsão de lançamento para o final de dezembro de 2008.

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