Em sua estreia na direção, Frank Miller é fiel ao 'espírito' de Will Eisner

Gospel Channel Edições | 13:35 | 0 comentários

Adaptação da série 'The Spirit' chega aos cinemas do país nesta sexta (20).
Filme tem Eva Mendes, Scarlett Johansson e Samuel L. Jackson no elenco.

Hollywood e os fãs de histórias em quadrinhos estão "de mal". Conquistada a duras penas nas últimas décadas com produções bem-sucedidas como "Homem-Aranha", "X-Men" e os dois últimos "Batman", a relação de amor entre as duas partes sofreu um baque neste mês com a estreia de "Watchmen".

Cultuada por 9 em cada 10 fãs de super-heróis e considerada "infilmável" por muitos, a HQ de Alan Moore e Dave Gibbons rachou opiniões quando sua adaptação finalmente chegou aos cinemas - houve quem gostasse da versão de Zack Snyder por sua fidelidade quase literal à HQ e houve quem criticasse justamente por ser fiel demais.

Foto: Divulgação


Dilema semelhante enfrenta Frank Miller, com sua versão para a tela grande de "The Spirit", obra de Will Eisner igualmente idolatrada pelos leitores de quadrinhos que estreia no país nesta sexta-feira (20). Sem risco de exagero, Eisner - morto em 2005 quando as negociações para adaptar a HQ já tinham se iniciado - é nada menos que o "deus" da narrativa dos quadrinhos. Foi ele quem cunhou o termo "graphic novel" e são dele algumas das indiscutíveis obras-primas do gênero como "Um contrato com Deus" e "O edifício".

Criada como uma tira de jornal no início da década de 1940, "The Spirit" era um dos principais veículos para a experimentação do autor, seja em seus roteiros voltados para leitores mais adultos, seja na inovadora linguagem gráfica desenvolvida por Eisner ao longo dos anos em que se dedicou ao projeto.

Também quadrinista e entusiasmado com sua curta mas razoavelmente pacífica relação com Hollywood - são dele as HQs que deram origem aos filmes "Sin city" e "300" -, Miller, estreante na direção, decidiu chamar para si a responsabilidade de levar "The Spirit" aos cinemas.

Amigo e discípulo de Eisner desde a década de 1970, o autor de HQs como "Batman - O cavaleiro das trevas" e "Ano um" revelou em julho passado, em San Diego, que não conseguiria enxergar outra pessoa que não ele fazendo o serviço. Resultado: lançado nos Estados Unidos em dezembro de 2008, o longa-metragem foi um fracasso de público e crítica, desdenhado por cinéfilos e fãs do personagem clássico de Eisner na mesma proporção.

As primeiras acusações diziam respeito - adivinha? - à falta de fidelidade de Miller à criação de seu suposto mestre. Diferentemente da versão em papel, o Spirit do cinema ganhou superpoderes e agora é capaz de se curar dos tiros e ferimentos inflingidos por seus inimigos em questão de horas.

Mais grave ainda, disseram os fãs, foi o fato de Miller ter dado um rosto ao arqui-inimigo de Spirit, o vilão Octopus, que na HQ só aparece na penumbra, no máximo com as luvas visíveis. Parece não importar aos críticos que o rosto e a voz de Octopus sejam do sensacional ator Samuel L. Jackson, que imprime um tom adequado de gibi ao personagem - afinal, quem Miller acha que é para tamanha ousadia? O diretor, talvez...

Recheado de belíssimas mulheres - Eva Mendes, Scarlett Johansson, Sarah Paulson, Jaime King etc. - mas estrelado por um ilustre desconhecido - Gabriel Macht -, "The Spirit" também foi alvo de reclamações por um flagrante artificialismo nas cenas e diálogos.

Quem viu (e gostou de) "Sin city", no entanto, tem pouco do que reclamar nesse sentido: esse mesmo artificialismo, com longas narrações em off e cenas de lutas nada verossímeis, é a marca registrada do trabalho de Miller. Eisner também não se preocupava ainda com os grandes dramas sociais a que viria se dedicar décadas depois - seu "The Spirit" era "só" uma tira policial, de aventura e mistério, com doses de sexismo e racismo que eram até comuns nas criações da época.

Mas, à parte as alterações já citadas e mais algumas mudanças para atualizar a trama - na década de 1940 não existiam telefones celulares, por exemplo -, Miller soube transportar para o seu filme a sensualidade das femme fatales da HQ e, principalmente, a estética das tiras com seus jogos de luz e sombra e uma cuidadosa mistura do branco-e-preto com cores. Também transparece no longa a influência do cinema noir e expressionista, com suas sombras e ângulos inusitados, que caracterizava os originais de Eisner.

"The Spirit", o filme, pode não agradar a todos, da mesma forma que as tirinhas da HQ, se lidas hoje, provavelmente não atrairiam novas legiões de leitores para as histórias em quadrinhos. Mas só a disposição de Miller em, como fazia Eisner, buscar uma linguagem experimental e diferenciada para levar sua versão do personagem às telas já indica que ele, sim, pegou o "espírito" da coisa. O resto é discutir o sexo dos anjos.

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