De viola em punho, Daniel é boiadeiro em ‘O menino da porteira’
“‘Menino da porteira’ faz parte da minha história”, diz cantor.
Quando pegou o microfone na apresentação da pré-estreia do filme “O menino da porteira”, o garoto João Pedro Carvalho, que interpreta o personagem-título, perguntou à plateia: “Quem sabe cantar a música d‘O menino da porteira’?”. E o cinema inteiro cantou as duas primeiras estrofes da música de Teddy Vieira e Luizinho, escrita em 1955.
A música caipira, mais que trilha sonora, é um dos principais e mais interessantes personagens do filme que estreia nesta sexta-feira (6) em 270 salas de cinema em todo o Brasil (cerca de 12% do total de cinemas do país). O longa na verdade é um remake do filme homônimo, protagonizado pelo cantor Sérgio Reis em 1976.
A nova versão muda de galã (desta vez, o cantor Daniel) mas tem o mesmo diretor, Jeremias Moreira. O tom caipira é garantido pelos cenários – o filme foi rodado em Brotas e Paulínia, cidades do interior paulista – e pelo sotaque dos personagens, puxado nos “erres” e às vezes deficiente de plural.
VÍDEO:DANIEL FILMA OS BASTIDORES
Ouro Fino
Ambientado no sudeste brasileiro, em 1954, “O menino da porteira” conta a história da região em volta da Fazenda Ouro Fino, onde o major Batista (interpretado por José de Abreu) controla tudo a ferro e fogo – incluindo os sitiantes que vivem em volta de sua propriedade. Quando o pequeno proprietário Otacílio (Eucir de Souza), pai do menino da porteira Rodrigo, tenta driblar o cerco do major, a tragédia está armada. Se envolve no conflito o boiadeiro Diogo (Daniel), que ainda por cima está apaixonado pela enteada de Batista, Juliana. Complementando o enredo, a trilha é cheia de novos e velhos clássicos da música caipira. “Eu canto ‘Menino da porteira’ com meu pai desde que eu tinha quatro, cinco anos”, diz Daniel em entrevista por e-mail ao G1. “Participei do processo de escolha de músicas e foi muito gostoso cantar músicas que fazem parte da minha própria história”.
Da guarânia “Índia”, gravada por Cascatinha e Inhana em 1952, a “Tocando em frente”, do caipira letrado Renato Teixeira, passando até mesmo por “Disparada” de Geraldo Vandré, a trilha mostra vários momentos da música caipira brasileira – e ainda dá a medida da ambientação, ora ao fundo de cenas mostrando os cenários do interior, ora com o próprio Daniel, de viola em punho.
Se o cantor se garantia na hora da música, para atuar a história é outra: teve que fazer laboratório e emagrecer seis quilos. “As cenas dramáticas exigiram um pouco mais de mim”, confessa Daniel, que volta a interpretar um peão boiadeiro na novela “Paraíso”, que estreia no dia 16 de março. “A experiência de contracenar com um fera como o Zé de Abreu é fantástica. Ele tem um olhar que te pega”, completa.
Sem energia elétrica, com a vida urbana limitada a uma vila com pequenas vendas (todas assinadas pelos patrocinadores do filme) e com música à beira da fogueira no lugar de qualquer aparelho, “O menino da porteira” é bom para recordar ou conhecer um Brasil que não existe mais – um pedaço de chão onde berrante não se toca mais.
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