Comic-Con bate novo recorde com 130 mil pessoas
De quinta a domingo, evento teve 'desfile' de fãs fantasiados.Oba-oba em torno dos filmes dificulta exposição dos quadrinhos.
É a parada do orgulho nerd. Nos últimos cinco dias, a ensolarada cidade de San Diego, na Califórnia, viu dezenas de milhares de fãs de gibis de super-heróis, videogames e seriados tirando as fantasias de seus personagens favoritos do armário para desfilarem soberanos pelas ruas de Downtown e corredores do gigantesco centro de convenções que todo ano, desde 1991, sedia a tradicional San Diego Comic-Con. Com recorde de cerca de 130 mil pessoas nesta edição, o evento é o maior do gênero no mundo e vem atraindo cada vez mais a atenção das grandes corporações do mundo do entrenimento. De Hollywood aos fabricantes de brinquedos e games japoneses, todos querem uma fatia do bolso do público nerd (não mais necessariamente o arquetípico jovem devorador de livros de ficção-científica, fora de forma e sem vida social que a mesma Hollywood acabou por cristalizar). Impulsionados por sucessos de bilheteria de filmes baseados em franquias de HQs ou nas séries antigas de televisão, os estúdios passaram a investir na Comic-Con como o melhor termômetro para testar a receptividade a seus novos lançamentos. Neste ano, os freqüentadores do evento - sempre ávidos por quaisquer pontas de informação sobre suas franquias prediletas - fizeram filas enormes para conferir em primeiríssima mão cenas inéditas de filmes como "Watchmen", aguardada adaptação da HQ cult de Alan Moore e Dave Gibbons, "Wolverine" e "The clone wars", a nova animação do universo de "Star wars" prevista para estrear no final de agosto. Deixando de lado o clima de segredo que geralmente ronda produções desse porte, na Comic-Con, o fã é brindado com exibições e informações exclusivas, de materiais muitas vezes inacabados, como foi o caso dos segmentos dos novos filmes da Disney/Pixar, "Bolt" e o promissor "Up", que só deve chegar aos cinemas em março de 2009.
"A razão de estarmos aqui é uma só: ouvir vocês. Queremos saber o que está funcionando, do que estão gostando ou odiando", dizia o editor de quadrinhos da DC Comics, Dan DiDio, em um painel montando essencialmente para os fãs e autores da editora de Batman, Super-Homem e companhia lavarem a roupa suja. Sem grandes privilégios a profissionais, VIPs ou à imprensa, os painéis chegavam a receber até 6.500 pessoas e, na maioria das vezes, reservavam ao menos um terço de seu tempo para sessões de pergunta e resposta com os fãs. Depois de arrancar urros da platéia com um trailer inédito de "Terminator: Salvation", quarto filme da série "O exterminador do futuro", o diretor McG ainda convocou fãs vestidos de Sarah Connor, T-1000 e até um "Arnold Schwarzenegger asiático" para dividirem o palco com ele e o elenco de atores. "O filme é fantááázzztico", repetia o sósia do "governator" no parlatório imitando o sotaque austríaco do ator e fazendo todos caírem na gargalhada. Apesar do estreitamento de relações com o cinema, os games e a cultura pop em geral que, de certa forma vêm revitalizando personagens e franquias de HQs que andavam esquecidas, toda a badalação da Comic-Con acaba inegavelmente tirando a atenção do que deveria ser o foco principal do evento, os quadrinhos (ou "comics"), que estão não só na origem mas no próprio nome da convenção. Ofuscadas pela pirotecnia dos estandes de estúdios e produtoras de cinema e games, as editoras nem sempre conseguem chamar a atenção devida a seus autores e lançamentos. Em seu discurso de abertura da cerimônia de entrega do Eisner Awards, promovida com um terço da sala vazia no final da noite de sexta-feira, o consagrado quadrinista Frank Miller reclamava: "Essa é a primeira oportunidade, depois de um longo dia, que estou tendo para falar sobre histórias em quadrinhos. Para quem daí estiver pensando em começar a fazer quadrinhos, meu conselho é: mantenha o foco. Se quiser entrar nesse meio, comece fazendo primeiro só quadrinhos e deixe os games e os filmes de lado", declarou o autor, que, por ironia da situação, fará sua estréia nas telas de cinema em novembro como diretor da adaptação de "The Spirit", série de quadrinhos cultuada do mestre Will Eisner.
Category: ENTERTAINMENT
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