Diretor argentino choca Cannes com filme sobre reencarnação
Ambientado em Tóquio, o filme conta a história de dois irmãos ocidentais, um traficante e uma stripper, que perderam os pais ainda crianças em um acidente de carro - repetido à exaustão na tela, com a conhecida mão pesada de Noé - e prometem cuidar um do outro para sempre.
Primeiro a viajar ao Japão, Oscar (Nathaniel Brown) decide ganhar a vida vendendo drogas sintéticas. Quando consegue juntar dinheiro suficiente, traz a irmã, Linda (Paz de la Huerta), para morar consigo em um apartamento.
No dia em que é chamado para fazer uma entrega em uma casa noturna, o rapaz é pego em flagrante e acaba assassinado pela polícia. Morto, o espírito do personagem passa a vagar pela cidade, em busca de um novo corpo para reencarnar.
Intercalado por flashbacks da infância dos personagens, "Enter the void" obedece a um tempo não-linear, com idas e vindas na história, que explicam como Oscar começou a traficar até encontrar seu trágico desfecho.
Assim como em "Irreversível", as cenas são filmadas a partir da visão do personagem, seja a partir das costas, quando Oscar ainda é vivo, ou vistas de cima, quando é a sua alma que percorre uma Tóquio quase futurista, repleta de luzes e fachadas de néon.
Montanha-russa
O principal diferencial, entretanto, são os constantes "mergulhos" de câmera, que fazem jus ao "Enter the void" (algo como "entrar no vazio") do título e jogam o espectador em um absoluto de luz - ou de escuridão. A metáfora é uma referência a um livro sobre reencarnação que Oscar lia pouco antes de morrer e que descreve a experiência pós-morte como uma busca incessante por portas iluminadas que, eventualmente, o levarão a uma nova vida.
Obrigado a ver o mundo pelos olhos do personagem, o público embarca em uma viagem ora fascinante - com cenas que remetem a alucinações provocadas por drogas como DMT ou ecstasy -, e em outras ocasiões apavorante, como quando se mergulha no ferimento à bala no peito de Oscar ou, pior, para dentro de um feto recém-abortado.
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